Contrário ao senso comum, vemos que a máquina de propaganda coreana vive
violando os princípios mais fundamentais do confucionismo, mostrando
sempre as qualidades “femininas” da dinastia Kim:
Mesmo quando Kim é chamado como “Líder Pai” (aboji suryong)… não tem
nada de confucionista ou patriarcal em relação a ele… Kim é chamado mais
comumente de “Líder Parental” (oboi suryong), embora se destacando mais
seu lado maternal do que o paternal. O próprio Kim Jong Il dizia que a
união de suas qualidades paternais e maternais era sua chave para o
sucesso.
Isto é ressaltado pelas várias imagens de Kim Il Sung e Kim Jong Il na
qual eles são mostrados como que segurando soldados e trabalhadores
felizes perto de seu peito. Os dois Kims (o livro aborda muito pouco o
atual líder Kim Jong Un) são, de fato, uma fusão de qualidades paternais
E maternais:
Artistas e escritores apenas não ressaltam os aspectos femininos da
aparência de Kim Il Sung – a pele suave e pálida, o sorriso com covinhas
no rosto, o seio expansivo – mas também é mostrado ele segurando
crianças pequenas ou deixando elas subirem em cima dele. Em fotografias
vemos ele sorrindo enquanto colegiais puxam ansiosamente seus braços e
mãos. Mesmo nas imagens que abordam seus anos como guerrilheiro tais
qualidades são sempre ressaltadas. Em uma das ilustrações ele é visto
colocando crianças na cama…
Desta forma, o Líder é tanto a mãe que cuida do povo quanto o pai que luta contra as ameaças externas.
Enquanto se processa tal raciocínio, temos que ter em mente também que a
ideologia dos japoneses durante a 2ª Guerra (ideologia essa que serviu
de base para o culto de personalidade norte coreana) frequentemente
retratava o Imperador Hirohito como uma figura andrógina, ao invés de
patriarcal. (Uma parte da cerimônia secreta de entronização do Japão
Imperial envolvia o Imperador dando a luz a si mesmo de forma
simbólica.)
O livro continua discutindo sobre a figura não muito patriarcal dos Kims:
… a imagem peculiarmente andrógina ou mesmo hermafrodita de Kim Il Sung
aparentemente gerou uma atração emocional bem maior comparado com as
figuras inequivocamente paternais que líderes da Europa Oriental
conseguiam ter. Eu não sou qualificado a analisar um culto (ou qualquer
coisa) de um ponto de vista psicológico, mas algo deve ser dito para
conter o ceticismo do leitor no que concerne a sanidade das pessoas que
cultuariam uma figura que teria qualidades tanto paternais e maternais.
Sigmund Freud escreveu que o desejo de cada criança era ter uma “mãe
fálica”, uma onipotente figura que combinaria os dois sexos em um…
Então ao invés de termos um bando de machões patriotas fora de controle,
a dinastia Kim é na verdade um regime que tenta unir os elementos
paternais E maternais numa única figura central.
Isto talvez pode nos ajudar a entender do ponto de vista psicológico o
porquê da resistência norte coreana criada nas mentes daqueles infelizes
o suficiente para ter nascido ali: se rebelar contra os Kims tiraria da
nação ambos os pais. Esta é uma perda que, vista sob o ponto de vista
psicológico, poderia ser fatal para a nação.
Mas a Coréia do Norte é um patriarcado puro e simples? Bem, se a análise
da sua propaganda interna for um indicativo confiável, o regime ali
criado é uma criatura muito diferente disto.
original traduzido: http://canal.bufalo.info/2013/04/a-androginia-no-regime-norte-coreano/
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