Diariamente cresce a população que tem um pensamento amplo sobre o amor ao próximo, algo que se desprende cada vez mais da religião e que ainda assim prega somente o bem.
O “Gender Neutral Parenting” (“criação sem gênero”, em tradução livre) é um exemplo disso. Nele, pais educam seus filhos sem distinção de gênero, deixando a criança liberta de estigmas previamente impostos que comumente trazem a infelicidade ao ser humano.
Pessoas criadas desta maneira naturalmente se manterão longe dos conflitos internos que se confrontam com os externos o que diminui a quantidade de frustrações, questionamentos e preconceitos, e gera um ser liberto para ser quem é livre de imposições assim, ele não assumirá ou repetirá um “papel” dentro da sociedade. Ainda que ele seja “ele” e use roupas de meninas, o seu gênero independerá de um brincar de bonecas ou jogar futebol usando vestido.
Segundo o Dr. Norman Spack (Professor assistente de Pediatria na Harvard Medical School e Diretor Clínico da Divisão de Endocrinologia do Children’s Hospital, em Boston), “o gênero não pode ser explicado por fatores como cromossomos, exposição a toxinas ou hormônios no período pré-natal, variabilidade genital, níveis de circulação de hormônios após o nascimento, gênero de criação, ordem de nascimento, ou a presença ou ausência de irmãos do mesmo sexo.”
E não fique aí pensando que o gênero de alguém diz respeito às preferências dele/dela entre quatro paredes. Gênero e sexo são coisas separadas, distintas até, mas trabalham juntas.
O que você tem entre as pernas não te define, mas sim o que você carrega na cabeça. A maneira que você usa o que tem entre as pernas é ditada pelo corpo e suas necessidades. Dessa forma há possibilidades do indivíduo ser quem ele foi feito para ser e não o que as regras dizem que ele deve se tornar. O corpo poderá assimilar muito ainda durante o amadurecimento e envelhecimento de sua vida, seja você um gênero em construção ou já sedimentado.
A rigidez nos papéis chamados de “homem e mulher” na sociedade nos dirigiu para uma “heterossexualidade compulsória” que fragilizou qualquer novo tipo de comportamento fora do código “x e y” ou “0 e 1″. Vale lembrar que o binário se recombina para novas possibilidades de gerar números reais, assim como o ser humano e suas vontades reais.
Se você é um homem transgênero, por exemplo, pode se interessar por outro homem, por uma mulher ou por ambos. Os bissexuais – ainda que alguns achem o contrário – são definidos por ter sua dualidade precisa e sua libido direcionada igualmente para ambos os sexos. Por estes motivos o entendimento dos gêneros precisa ganhar espaço e respeito, assim como visibilidade. Certamente a qualidade de vida de todos irá melhorar.
Quando todos puderem aceitar as diferenças e talvez apreciar as singularidades ao seu redor provavelmente teremos um mundo melhor. Sei quehá um quê de Miss nesse papo, e é a pura verdade! -Sim, sou um Miss! Tão Miss e/ou tão Mister que tento rebater em crítica cênica uma libertação dos estigmas sociais, burlando e criando um ruído na opinião pública sobre os gêneros.
O boylesque surgiu de um pouco de tudo isso, conectando a performance e um cunho ativista em uma cena tipicamente burlesca. Dialogando com as possibilidades de vestimentas, ações, sensualidade e movimentações codificadas nos papéis “homem e mulher”, subvertendo-as e deixando ao espectador a pulga atrás da orelha e o nó nos pensamentos sobre o que ele tem como certo e errado.
O termo Boylesque ganhou visibilidade em 2006 na cena burlesca em Londres, porém a história dos rapazes no burlesco é datada em 1800 com Henry Dixey. Na atualidade os primeiros performers neo-burlescos são heterossexuais – diga-se de passagem – livres de estigmas e que buscam transgredir os gêneros. Em 1977 Kenny Kerr usou o termo em seu show “This is Boy-Lesque” que foi um dos mais populares espetáculos de Las Vegas. Hoje temos até grandes shows somente com rapazes burlescos em cidades como Sidney e também boylesques em cada canto do mundo querendo deixar seu questionamento sobre o respeito e o espaço que é dado às particularidades de cada ser vivo. Na história temos outros ícones tão boylesques quanto os recém-nomeados. Desde David Bowie, Bob Fosse, e Boy George até os nossos divinos Dzi Croquettes que da mesma forma cutucaram a ferida já exposta dos singulares.(créditos:  Revista Entremundos Logo (font)